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Entrevista com José Carlos Sprícigo

Presidente da Anfir vê indústria de implementos rodoviários preparada para responder aos desafios do mercado

Atual presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), José Carlos Sprícigo também atua como CEO da Librelato S.A. e como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Criciúma, além de ser membro efetivo da diretoria da Associação Empresarial de Criciúma (ACIC).


Segundo Sprícigo, estamos diante de uma retomada de negócios. “A indústria de implementos rodoviários está preparada para responder aos desafios do mercado que precisa de seus produtos. Assim, para contribuir com este momento favorável, temos a realização da Fenatran, a maior feira de transporte de cargas da América Latina, que tradicionalmente é um polo gerador de negócios que se estendem até meados do ano seguinte”.





Confira a entrevista completa:


Presidente Sprícigo, o senhor assumiu a Anfir em 2021, em um momento de crise mundial devido à pandemia de covid-19. Gostaria que o senhor nos contasse como foi assumir essa entidade tão importante em um momento tão complexo. Quais foram os principais desafios encontrados naquele primeiro momento?


Resposta: Assumir a liderança de uma entidade com o perfil da ANFIR é sempre um ato de muita responsabilidade. Claro que ninguém é presidente sozinho, e na ANFIR você exerce seu mandato com apoio de pelo menos dois círculos de pessoas. Um é o formado pelos conselheiros e diretores da ANFIR, e o outro pelo corpo profissional e técnico da entidade.


É uma verdade histórica que uma das grandes qualidades do executivo brasileiro é saber lidar com crise. Portanto, ao assumir a ANFIR em meio à crise, posso dizer sem exagero, não foi a primeira vez que fiz algo do tipo em minha longa vida profissional. Toda crise gera desafios muito próprios, entretanto sempre nos deixa um aprendizado. Os dessa em especial foram inéditos.


Enfrentamos uma crise econômica causada pela pandemia. Precisamos nos adaptar às limitações impostas pelo momento, como o distanciamento social, a redução do número de pessoas nos locais de trabalho, as alterações nas rotinas, dentre outros desafios. Saímos de nossa zona de conforto e precisamos criar outra forma de desenvolver nosso trabalho fabril. Isso exigiu da entidade e de seus associados muita perseverança e mudança de diversos paradigmas, além de maior cooperação com fornecedores e com colaboradores, porque a crise era de todos. Foram tempos difíceis, mas agora podemos olhar para trás com a sensação de termos superado um dos maiores desafios dos últimos anos. Neste momento, ressalto ainda a importância do associativismo, de ter com quem dividir suas “dores, dúvidas” para seguir um caminho com maior assertividade.


Em 2022, passando para o seu segundo ano de mandato, uma volta à normalidade voltou a ser sentida, o que, no entanto, não quer dizer que não foi um ano de desafios. Qual análise o senhor faz do setor de implementos rodoviários neste ano?


Estamos diante de um ano de retomada de negócios. A indústria de implementos rodoviários está preparada para responder aos desafios do mercado que precisa de seus produtos. A economia volta a crescer, e isso pode ser verificado em setores como agronegócio, construção civil, mineração e comércio de varejo. Alguns economistas apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) em 2022 pode chegar a 3%. Tudo indica que a economia deve seguir no rumo positivo até o final do ano. E para contribuir com este momento favorável temos a realização da Fenatran, a maior feira de transporte de cargas da América Latina, que tradicionalmente é um polo gerador de negócios que se estendem até meados do ano seguinte.


Voltando a falar de desafios, não podemos deixar de citar o aumento dos insumos do setor de transporte e da economia brasileira como um todo. Como o senhor enxerga este momento e de que maneira a Anfir está atuando para minimizar os efeitos do aumento dos insumos nos setores com os quais ela se relaciona, como o do transporte de cargas?


Os aumentos de preços de componentes e insumos, em especial o aço, pesaram bastante nas operações e reduziram muito as margens de lucratividade da indústria. O aço é um dos exemplos mais emblemáticos para nós. Ele é um dos insumos mais necessários para a produção de implementos rodoviários e representa em média 70% dos insumos utilizados em praticamente todos os produtos do nosso setor fabricado no Brasil. Com o mercado em recuperação, conseguimos repassar parte desses aumentos aos clientes. Nossas margens caíram, e o resultado foi que a indústria pagou com sua margem a manutenção de suas vendas em uma situação nada desejável e bem longe do que entendemos como mercado saudável. Assim, a estratégia de crescimento do setor foi buscar as melhores oportunidades que foram surgindo a partir do bom desempenho do agronegócio, da construção civil e da mineração, os principais motores de nossa recuperação este ano.


Mesmo diante destes desafios dos quais estamos falando, o setor de implementos rodoviários tem crescido neste ano. Segundo a Anfir, a média mensal de emplacamentos de implementos rodoviários em 2022 está crescendo. A primeira medição, feita no primeiro bimestre, indicava média de 11.482 produtos. Em oito meses, a média mensal passou para 12.965 unidades. Na visão da entidade, quais foram os principais motivos desse crescimento? Podemos dizer que o setor está voltando a crescer e se estabilizando?


Podemos dizer que o setor voltou a crescer e que vai continuar neste caminho. A curva positiva verificada na média mensal de emplacamentos mostra que o mercado está reagindo impulsionado pelo desempenho de setores da economia como agronegócio, construção civil, mineração e comércio de varejo. Observe que a média tem crescido de forma constante, e a diferença de 1.500 unidades do primeiro para o último resultado é bastante significativa.


Em 2023, teremos a entrada em vigor do Proconve P8 para que os caminhões atendam às novas regras de controle de emissões, equivalentes ao Euro 6, podendo assim os veículos ficarem até 20% mais caros. Como a Anfir acredita que essa questão impactará o segmento de implementos rodoviários?


A Anfir acreditava que poderia haver uma antecipação de compra devido à chegada do Euro 6. Porém, notamos que isso não deve acontecer devido à escassez de componentes para a fabricação de caminhões. Entretanto, variáveis como crescimento do agro, com expectativa de produção de 320 milhões de toneladas na safra 2023; controle de inflação, sobre a qual economistas evidenciam possível convergência para a meta no próximo ano, viabilizando uma redução de taxas de juros; menor pressão inflacionária; e continuidade no crescimento do PIB devem gerar o cenário favorável à manutenção da demanda por implementos rodoviários. Temos também o Programa Renovar, que deve causar um impacto positivo, mas ainda é cedo para prever os números de emplacamentos que virão da renovação de frota de caminhões, implementos e ônibus.


Em setembro, mais precisamente nos dias 13 e 14, a Anfir, em conjunto com a Apex Brasil, realizarão uma rodada de negócios no Peru, com diversas empresas importantes já confirmadas. Quais os principais objetivos dessa rodada de negócios e como ela impactará positivamente o setor aqui no país?


As rodadas de negócios são ações que integram o projeto MoveBrazil, desenvolvido pela Anfir e pela ApexBrasil. O objetivo do programa é incentivar as exportações de produtos brasileiros por intermédio da inserção da empresa nacional no mercado internacional. O impacto direto no setor é o aumento das exportações e a abertura de novas oportunidades de negócios em mais países que ainda não compram implementos rodoviários feitos no Brasil. As rodadas de negócios acontecem tanto em países estrangeiros quanto no próprio Brasil. Nas duas ações, os fabricantes de implementos rodoviários se reúnem com os principais operadores logísticos tanto do país onde se realiza o evento quanto do grupo convidado a vir ao Brasil e apresentam suas empresas e seus produtos.


Vamos falar agora mais especificamente sobre o transporte rodoviário de cargas, no qual a NTC&Logística possui forte atuação. O setor teve um 2022 de retomada de crescimento e de estabilização apesar dos desafios que o cercaram. Como o senhor e a Anfir enxergam a atuação desse segmento para o desenvolvimento da economia do país?


O transporte de cargas rodoviário é essencial para o Brasil. Eu respondo suas perguntas sentado em uma cadeira com um computador diante de mim sobre minha mesa. Todos esses produtos vieram até meu escritório porque alguma empresa de transporte trouxe essas cargas. Para qualquer lado que você olhe tem a presença do trabalho do transporte de cargas. A economia não se desenvolve sem a movimentação física dos bens produzidos. De commodities a itens industrializados, tudo precisa ser movimentado de um lado para o outro. Assim, o desenvolvimento do Brasil acontece com a ação valiosa e fundamental dos transportadores de carga. Os dados do transporte rodoviário de cargas (TRC) brasileiro comprovam que dois terços do PIB nacional rodam por nossas estradas por caminhões e implementos rodoviários. Com isso, podemos concluir a importância do TRC no desenvolvimento do nosso Brasil.


Qual a importância de a NTC&Logística, a Anfavea e a Anfir estreitarem seus relacionamentos?


Entidades de peso e de representatividade devem buscar pontos em comum e estabelecer sinergias para desenvolver trabalhos em benefício comum e com reflexos positivos para a sociedade. As ações desenvolvidas pela NTC&Logística, pela Anfavea e pela Anfir seguem esse escopo de trabalho. O estreitamento de nosso relacionamento, que começou já há alguns anos, é fundamental por trazer benefícios a um dos setores centrais do desenvolvimento do Brasil: o transporte de cargas. Por isso, quanto mais próxima a relação de fabricantes e de operadores logísticos, maior o benefício à sociedade.


Neste ano teremos também a Fenatran, maior feira do setor de transportes da América Latina, e a Anfir possui importante participação. Quais são as expectativas da entidade para o evento, que volta a ser 100% presencial?


As expectativas são muito altas. Estamos em um bom momento, com os emplacamentos de implementos rodoviários crescendo mês a mês. A Fenatran é tradicionalmente um polo de negócios. A indústria participará disposta a fazer dessa a melhor Fenatran dos últimos tempos. Já temos dados confirmando que mais de 50 empresas associadas à Anfir estarão presentes na Fenatran, trazendo novidades que possam facilitar o TRC brasileiro.


Partindo para a fase final da nossa entrevista, temos neste ano as eleições presidenciais, que devem causar algum impacto em nossa economia. Quais as expectativas da Anfir para o ano de 2023 com relação ao desenvolvimento do setor de implementos e da economia como um todo?


Acreditamos que os empreendedores do setor tomam decisões de longo prazo. Independente dos políticos, cada um tem que focar em seu negócio. Por isso, acreditamos na continuidade do crescimento do transporte rodoviário de cargas brasileiro e defendemos a reforma tributária e administrativa, verticais importantes para o crescimento do país.


Mensagem para Francisco Pelucio, presidente da NTC&Logística:


Presidente Sprícigo, gostaríamos que o senhor também deixasse uma mensagem para o presidente Francisco Pelucio, que neste ano completará seu último ano da primeira gestão à frente da NTC&Logística.


Prezado Francisco, parceiro de luta em favor do desenvolvimento do Brasil, parabéns pelo seu trabalho à frente da NTC&Logística. Reconhecemos que a união de forças, e você é um protagonista em acreditar no associativismo, resulta em dias melhores à NTC&Logística, a seus associados e a todos que de certa forma usufruem do benefício de melhoria constante no TRC nacional. Espero que possamos continuar trabalhando juntos nos próximos anos.


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