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Panorama do índice nacional do custo de transportes – INCT


Alex Agostini

O Departamento de Custos Operacionais e Pesquisas Técnicas e Econômicas (DECOPE) da NTC&Logística é responsável por estudos técnicos voltados à apuração de custos de transporte rodoviário de cargas e logística, de estatísticas do setor, de estudos macroeconômicos e de formação de índices de custos referenciais que medem a inflação do setor. Dentre eles, os dois com mais destaque são o Índice Nacional de Custos de Transporte de Carga Fracionada (INCTF) e o Índice Nacional de Custos de Transporte de Carga Lotação (INCTL).


O INCTF e o INCTL têm como principal objetivo medir a evolução dos custos operacionais de transporte rodoviário de cargas e são índices do setor de transporte com grande repercussão e credibilidade, publicados no site da NTC e por todas as entidades que representam o transporte (sindicatos e federações), bem como em outros meios de comunicação. Servem, ainda, como instrumento de atualização de contratos públicos e privados no mercado de frete.


Estrutura dos índices


Do ponto de vista técnico, a fórmula de cálculo do INCT é um Índice de Laspeyres Modificado, portanto caracteriza-se por ter pesos variáveis e quantidades fixas (base de ponderação constante).


A fórmula do Índice de Laspeyres Modificado foi elaborada pelo Census of Bureau dos Estados Unidos nos anos sessenta. É a fórmula de cálculo de número-índice mais usada no mundo inteiro, pois atende a grande parte das propriedades desejadas para um número-índice estabelecidas por Fisher (1922). Contudo, como pressupõe quantidades fixas, índices desse tipo precisam ter sua base de ponderação atualizada de tempos em tempos, o que é uma preocupação constante do DECOPE/NTC&LOGÍSTICA.


Índice da carga fracionada


A estrutura da planilha de custos da carga fracionada que serve como base para o Índice Nacional de Custos de Transporte da Carga Fracionada (INCTF) é composta pelos custos operacionais de transferência – caminhão trucado com baú de alumínio –, pelos custos de coleta e distribuição – veículo ¾ baú de alumínio – e pelas despesas administrativas e de terminais.


Os principais insumos da estrutura de custos da carga fracionada são salários dos motoristas, de ajudantes e de oficina; remuneração de capital; depreciação de veículos e de equipamentos; seguros do casco do veículo e da carroceria; seguro contra terceiro; licenciamento; pneus; manutenção; combustível (óleo diesel e arla-32); lubrificação; rodoar; recapagem; óleo de câmbio e cárter; despesas administrativas, entre outras.


A série histórica do INCT tem como base 30/06/94 igual a 100, e a partir da edição do Plano Real (julho de 1994) os contratos passaram a ser reajustados anualmente. Seu funcionamento se dá como um índice de inflação (IPCA, IGP e INPC, por exemplo), porém apenas em relação ao setor de transporte (insumos e salários, por exemplo).


O INCTF mede a evolução de todos os custos da carga fracionada, incluindo transferência, coleta e distribuição, custos administração e de terminais. Nesses custos, não estão contemplados impostos, pedágios e margem de lucro, e a atualização dos preços que compõem o índice é feita mensalmente por meio de pesquisas de mercado.


INCT-F DECOPE/NTC DE AGOSTO/21 A AGOSTO/22



Índice da carga lotação


A estrutura da planilha de custos da carga lotação que dá base ao INCTL é composto pelos custos operacionais de um cavalo mecânico e um semirreboque baú duralumínio com 3 eixos utilizado na operação de lotação, mais os custos administrativos e de terminais.


Dentro desta estrutura, é apurado periodicamente, por meio de pesquisas de mercado, o preço à vista de insumos como caminhão, carrocerias, pneu, câmara, protetor, óleo diesel, óleo lubrificante, rodoar, lavagem, recapagem, salários do motorista, salário de oficina, salários administrativos, despesas administrativas, óleo de câmbio e de cárter, seguros do casco do veículo e da carroceria, seguro contra terceiros, despesas com rastreamento, entre outros. Da mesma forma, a atualização dos preços dos insumos do INCTL é feita mensalmente por meio de pesquisas de mercado.


O INCTL reflete a variação dos custos do transporte rodoviário de cargas fechadas ou lotações, ou seja, ele mede a evolução de todos os custos da carga completa, incluindo a transferência, a administração (custos indiretos), gerenciamento de riscos e custo valor. Assim como o INCTF, ele também não contempla impostos e a margem de lucro na sua apuração.


INCTL - DECOPE/NTC DE AAGOSTO/21 A AGOSTO/22


Os custos e a inflação para o setor de transporte rodoviário de carga


Ao longo de 2019, observamos que o INCT teve uma ascensão acima da inflação oficial do IPCA de igual modo no ano seguinte, no entanto a partir de 2021, no período pandêmico teve um ritmo crescente exponencial, quando comparado com o IPCA e alcançando o seu pico, a inflação do setor de transporte rodoviário de carga, no ano de 2021 atingiu patamar histórico, o INCTL bateu o seu maior desde a sua criação em 2003 alcançando 26,9% e, o INCTF, com 18,0%, só teve um valor superior há 26 anos, ou seja, em agosto de 1995.


Devido à guerra inflacionária dos insumos de produção, os fornecedores estão ajustando os seus custos e, consequentemente, repassando essas pressões para os transportadores por conta do momento pandêmico. Desta maneira, isso é refletido nos indicadores do transporte e galga variação percentuais monumentais.


Por fim, estima-se que essa escassez tem sido o principal responsável pelos constantes aumentos reais. Contudo, no segundo semestre de 2022, observamos a desaceleração da inflação e o controle da inflação, muito por conta do controle da pandemia e também do aumento da oferta de bens e de serviços mundialmente.




Como atividade meio, o transporte sofre imediatamente as consequências da pressão dos insumos dos setores produtivos, como também foi um dos primeiros setores a sentir o impacto inflacionário e está sendo um dos primeiros a sair dela.


O setor passou repentinamente por um processo de recomposição dos fretes e está ajustando os seus custos de produção e, consequentemente, essas pressões para os transportadores. Por isso é imprescindível que sejam repassados de forma imediata o acumulado dos aumentos de combustível para manter a saúde financeira e para que seja mantido o equilíbrio do mercado do transporte rodoviário de carga.


Notadamente, vemos a ascensão da inflação em níveis altíssimos globalmente, embora aqui fletamos com um controle inflacionário. É oportuno lembrar que estamos passando por um período difícil, com os combustíveis acumulando um aumento estratosférico de 53,97% em 12 meses, mesmo com guerra entre Rússia e Ucrânia que persiste sem a previsão de um cessar fogo aliada a aumentos de custos dos demais insumos na casa de 20 a 30%.



Dessa maneira, notamos que o transportador, somente ao longo do ano, absorveu quatro reajustes de diesel que já acumula uma variação de 67,95%. Além disso, o segundo maior custo do TRC foi a mão de obra reajustada. O reajuste salarial médio ficou em 12,0%, e, como este custo representa em média 20%, seu impacto no setor ficou em torno dos 2,4% (20% sobre 12,0%). Como se não fosse suficiente, os demais custos, como o dos veículos, de pneus, de manutenção, de rodoar e outros, tiveram aumento por conta do reajuste dos insumos e da mão de obra.



Combustível – diesel


O ano iniciou com um aumento expressivo de combustível. Em 12 de janeiro, a Petrobras anunciou reajuste de 8,1% e em 11 de março um reajuste na magnitude de 24,9%, assim desafiando as empresas a um repasse imediato desse custo para o embarcador para que haja um equilíbrio do mercado de transporte. Não sendo suficiente, no princípio de maio houve outro reajuste de 8,89% para o diesel, e por fim em 18 de julho outro exponencial aumento de nada menos que 14,2%, acumulando um gigantes repasse no ano de 67,95% praticado nas distribuidoras. No entanto, vale ressaltar que essas variações causaram um impacto na bomba, acumulando no ano uma variação de 38,94% acompanhada pelo preço médio Brasil divulgados pela ANP, que se incorpora integralmente ao preço final.



É evidente que o peso do combustível nos custos do transporte é calculado em função da quilometragem que o veículo roda em suas operações. Dessa forma, quanto mais se roda, mais combustível se consome e maior é a participação deste no custo total da operação.




Mão de obra – motoristas e ajudantes


Os reajustes salariais do setor atingiram em 2022 a média de 12%, sendo que em sua maioria o repasse será fracionado. Ou seja, a primeira parcela tem como mês base maio e aplica em torno de 10%. Além disso, a liquidação sofre reajuste sendo aplicada em 2,00% entre outubro e novembro. Vale ressaltar que o índice base é o Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), que acumulou uma variação de 12,47% entre abril de 2021 e abril de 2022. Neste caso, por se tratar de um custo fixo, o peso da mão de obra tem maior participação nas operações em que se roda pouco.


Essa característica faz com que o segmento de carga fracionada, que demanda uma quantidade grande de funcionários, tenha um peso significativo da mão de obra, principalmente nas operações de coleta e entrega, nas quais o veículo roda pouco e normalmente se trabalha com uma tripulação composta de um motorista e um ou dois ajudantes.


Veículo – caminhão, cavalo mecânico e semirreboque


De igual modo, o veículo e seu implemento têm uma participação expressiva, até porque seu valor influencia os custos de manutenção e de taxas e impostos, que têm como base o valor do veículo, além do seguro do casco, da depreciação do veículo e da remuneração do capital empatado.


O valor do veículo subiu substancialmente neste ano. O veículo rodoviário foi o que teve maior variação, expressivos 13,57%, seguido do veículo urbano utilizado na operação de transporte de coleta/entrega com 10,21%. O semirreboque da lotação teve uma variação colossal de 58,42%, e o caminhão trucado da fracionada uma expressiva variação de 26,54% ao longo do ano.


Despesas indiretas (administrativas)


As despesas indiretas têm papel significativo no segmento de carga fracionada, podendo em alguns casos representar quase metade dos custos envolvidos. No segmento de carga lotação, elas giram em torno de 10%. Fazem parte da relação destas despesas custos que tiveram aumentos consideráveis, como a mão de obra administrativa, energia elétrica, água e juros.


Em 2022, acumulou-se um aumento de 9,0% para a carga fracionada e de 5,52% para a lotação.


Demais insumos


Os outros insumos que tiveram variação contundente foram a manutenção com variação de 6,01%, seguros com 12,87% e o pneu com 7,83%.


Por fim, visualizamos que o Brasil deve começar a se reerguer para valer em 2023, dando possibilidade aos transportadores de começar a recuperar pelo menos uma parte do que foi perdido nos últimos anos com a recessão.


Mas é necessário que o transportador faça a sua parte: precisam urgentemente, em primeiro lugar, valorizar o serviço que presta, pois ele é trabalhoso e possui muitos riscos; em segundo lugar, cobrar e ser remunerado de forma justa e adequada pelo serviço que entrega; e lembrar sempre que cobrar frete é tão complexo como o serviço que se presta, para o qual, infelizmente, não há o milagre da simplificação.


Acesse aqui os gráficos:

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Gráficos INCT_2022_Vr_Final
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