Eduardo Rebuzzi vê empresas do TRC superarem dificuldades, mas acredita que apenas o fim da pandemia será capaz de melhorar o cenário econômico de maneira geral
Atual vice-presidente da NTC&Logística, Eduardo Rebuzzi é um nome reconhecido no segmento de transporte rodoviário de cargas (TRC) por suas passagens de sucesso nas entidades de classe do setor.
O também presidente da FETRANSCARGA acredita que o Brasil precisa urgentemente das reformas administrativa e tributária, bem como da reforma política. “São reformas que se complementam e que podem colocar o país em outro viés, mais liberal e desenvolvimentista, proporcionando segurança jurídica àqueles que querem investir em médio e longo prazo, gerando riqueza e bem-estar social”.
Confira a entrevista completa:
Para começarmos a conversa, gostaria que o senhor falasse um pouco sobre como foi o ano de 2021 como vice-presidente da NTC&Logística.
Resposta: O ano de 2021 continuou sendo muito difícil para o Brasil e para os demais países no mundo, ainda por conta da pandemia causada pela covid-19: foi um contexto de redobradas atribulações e demandas. Como vice-presidente da NTC&Logística, procurei apoiar o presidente Francisco Pelucio em todas as ações e assuntos de interesse do setor, inclusive com o empenho da seção de cargas da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da qual sou presidente.
Ainda sobre o trabalho na NTC&Logística, a entidade continuou o trabalho de diálogo com diversas entidades do setor. Entre elas, podemos citar a audiência com a ANTT que aconteceu em agosto. Qual a importância de encontros periódicos com entidades importantes para o desenvolvimento contínuo do setor?
Resposta: O transporte rodoviário de cargas é atividade-meio e promove o funcionamento dos demais setores econômicos, inclusive o dos outros modais. É peça-chave na cadeia logística. Assim, fazem parte da atuação da NTC&Logística a representação e o diálogo permanente com todos que produzem, regulam e fiscalizam, sejam entidades empresariais ou autoridades. Nosso papel, como entidade e lideranças, requer muita responsabilidade.
O setor de transporte continuou o bom trabalho neste ano e, junto com outros setores da economia, conseguiu ter um avanço depois de se adequar ao quadro da pandemia. A que o senhor atribui a melhora exponencial do setor no último semestre de 2021, principalmente se comparado a 2020?
Resposta: Não vejo, pessoalmente, que as empresas tenham se adequado ao quadro da pandemia. A própria definição de pandemia, como doença disseminada em âmbito mundial, que atinge elevado número de pessoas num grande número de países, já infere não existir adequação. O que entendo é que muitos estão conseguindo superar a situação, mas para vencer. A pandemia, em si, tem que ser derrotada, tem que deixar de existir. Para isso, temos a ciência e esperamos que, como ocorreu com outras doenças do passado, se encontre os meios de extinção ou de controle do vírus. Mas quem pode dizer que outros não virão pela frente? Quanto à melhora que vem acontecendo, é fruto da necessidade de viver e, para se viver, é imprescindível produzir, abastecer e consumir. Nessa hora, quem funciona fazendo tudo rodar é o transporte.
Além de vice-presidente da NTC&Logística, o senhor também é presidente da seção de cargas da CNT. A confederação também faz um trabalho importante de divulgação de medidas, como o webinar de práticas da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e workshops para o setor. Quais são os planos da confederação no que tange ao transporte rodoviário de cargas no próximo ano?
Resposta: A CNT é nossa entidade maior, congregando todos os modais de transporte de cargas e de passageiros. Assim como o transporte move o Brasil, o Sistema CNT impulsiona esse movimento atuando junto aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ouvindo as nossas demandas e promovendo os debates em torno dos temas de interesse do setor e do desenvolvimento do país.
A exemplo do que foi desenvolvido por conta da implantação da LGPD e do Documento Eletrônico de Transporte (DT-e), cabe às seções pautar os assuntos e propor os devidos encaminhamentos. Quanto aos planos para o próximo ano, posso dizer que seguem de acordo com o que vem sendo desenvolvido dentro da dinâmica e da prioridade que as empresas necessitam. Não vejo como apontar, aqui, ações específicas, diante do grande número das que já estão em andamento.
Podemos considerar que, em 2021, houve algumas mudanças importantes para o TRC, como a implementação do DT-e, aprovada com o auxílio da CNT, por exemplo. Para o senhor, quais serão as principais melhorias e dificuldades na implementação da nova medida provisória (MP)?
Resposta: O DT-e não foi um pleito do setor, mas tivemos que entrar no debate intensamente de modo a procurar torná-lo menos complicado para o TRC e para que não fosse apenas mais um documento entre tantos já existentes. Nesse aspecto, tanto a CNT como a NTC se empenharam muito, com o apoio das federações e de empresas que procuraram mostrar os impactos negativos para a atividade. A MP ficou para trás, e temos, hoje, a Lei nº 14.206/2021, publicada em 28/09/2021 e com vigência imediata, instituindo o Documento Eletrônico de Transporte, exclusivamente digital, mas que ainda depende de regulamentação e de convênios a serem celebrados entre a união e estados e municípios. Ou seja, ainda temos um longo caminho a percorrer, e o principal é que venha a ser, realmente, um documento digital e único, que simplifique a burocracia e que ajude a reduzir os custos do transporte.
Apesar das boas mudanças, ainda não tivemos avanços com relação às reformas tributária e administrativa. Por que o senhor acredita que elas estão estagnadas e como elas podem ser importantes caso avancem?
Resposta: O Brasil precisa urgentemente dessas reformas, bem como da reforma política. São reformas que se complementam e que podem colocar o país em outro viés, mais liberal e desenvolvimentista, proporcionando segurança jurídica àqueles que querem investir em médio e longo prazo, gerando riqueza e bem-estar social. Desde quando alcançamos a estabilidade monetária, com o Real, não cabe mais ganhar ou perder como resultado de ações oportunistas. Uma nação se constrói com segurança e respeito, olhando adiante sem medo de surpresas em cada esquina.
Outra grande dificuldade para o setor foi o aumento dos combustíveis. Como o senhor avalia esse momento de instabilidade e o que deve ser feito para que esses aumentos não continuem em 2022?
Resposta: O combustível é um dos maiores custos na planilha das empresas de transporte e dos caminhoneiros autônomos. Sem dúvida, essa política de aumentos frequentes traz grande dificuldade para o setor, já que este não se consegue repassá-los para o frete na mesma velocidade, o que gera um saldo negativo constante e acumulativo. É um tema complexo e que deve ser tratado com imprescindível agilidade e cuidado, com responsável e isenta atuação de todos os agentes envolvidos na cadeia produtiva.
Falando um pouco sobre o seu trabalho como presidente da FETRANSCARGA, o Rio de Janeiro sofreu baques econômicos antes E durante a pandemia. Como a FETRANSCARGA atuou para ajudar o transporte de cargas no estado?
Resposta: O Rio de Janeiro vem sofrendo um esvaziamento econômico há décadas, com a saída de empresas por conta de vários motivos, entre eles o da segurança pública. Com a pandemia, tal quadro se agravou, principalmente na atividade do comércio, com o fechamento de muitas lojas, bares, restaurantes e até hotéis, com a redução do turismo. Sempre coube à FETRANSCARGA atuar de forma institucional em defesa do TRC, incluindo ações de apoio ao desenvolvimento do estado, ao lado de entidades empresariais que representam os outros modais de transporte e setores econômicos. Afinal, o TRC somente terá carga para transportar se tivermos produção e consumo.
Outro aspecto importante sobre o transporte de cargas no Rio de Janeiro é a violência nas rodovias. Segundo a Firjan, em média, 12 caminhoneiros por dia são assaltados nas estradas do estado. Como a FETRANSCARGA enxerga esse cenário e consegue dar assistência às empresas de transporte que passam pela região?
Resposta: A violência nas rodovias do estado e na região metropolitana do Rio de Janeiro nos levou, lamentavelmente, em 2017, à posição de liderança nos roubos de carga no Brasil. De lá para cá, os índices caíram acentuadamente, fruto de muito trabalho coordenado pelas entidades empresariais com as autoridades estaduais e federais. Não existe solução desse problema sem o envolvimento de todos, mas não basta apenas a atuação policial nas rodovias e vias urbanas. Imprescindível é o trabalho de inteligência para se identificar e penalizar os receptadores, bem como leis mais rigorosas que punam e que fechem estabelecimentos que adquirem e comercializem produtos roubados.
Para finalizar, gostaria que o senhor deixasse suas expectativas para o início de 2022 para os transportadores.
Resposta: Imaginamos que 2022 não será um ano muito fácil, mas acredito que deverá ser melhor do que 2020 e 2021, apesar de se tratar de um ano com eleições nacionais, envolvendo os poderes Legislativos e Executivos estaduais e federal, o que provoca apreensão e possível insegurança para os investimentos e negócios. Temos um grande número de desempregados e muitas mudanças na economia, inclusive no transporte de cargas, que precisam ser tratados e conduzidos com atenção especial de todos.
Diz o ditado que, se não podemos mudar os ventos, temos que ajustar as velas. Nesse ponto, recomendo duas coisas: que as empresas procurem ajustar as velas para encontrar a melhor rota e, ao mesmo tempo, que nossas entidades procurem ajudar mudando os ventos que vão contra o nosso setor.
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