O transporte rodoviário brasileiro, responsável por mais de 65% de toda a carga transportada no país, de acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), também atua entregando para fora do Brasil. Como uma pandemia possui escala global, o modal internacional também foi afetado pela crise gerada pela covid-19, sendo imposto um regime de exceção e formalidades nunca vistas, além do surgimento de diversos conflitos.
A NTC&Logística, a principal entidade brasileira do transportador, foi uma das instituições que tomaram a frente para buscar soluções aos problemas encontrados em conjunto com a ABTI. Como membro das duas associações, mas principalmente como vice-presidente para assuntos do transporte internacional da NTC, acompanhei de perto tudo que ocorreu, e trago aqui para vocês um panorama de 2021.
De forma correta, visando ao bem de todos, declarações de saúde, horários reduzidos, equipamentos de proteção, prorrogação de licenças e documentos criaram um “novo normal” que impôs resiliência aos operadores que entregam para fora do país.
Porém, se antes realizar transporte internacional de cargas já não era uma tarefa das mais fáceis devido a toda burocracia aduaneira, à lentidão nos cruzamentos de fronteiras e a diversas regras acordadas entre os países, o coronavírus trouxe ainda mais desafios e deixou ainda mais complexa a execução desse modal.
O Brasil faz fronteira com outros nove países da América do Sul, fronteiras essas que na maior parte do tempo permaneceram abertas para motoristas de veículos de carga. No entanto, devido ao fato de em certo momento nosso país atingir números alarmantes de infecção e de morte pelo vírus, diversos problemas logísticos foram surgindo, com países como Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Peru criando regras e limitando o fluxo de mercadorias.
A Argentina em especial foi o país com maior rigidez no controle do transporte internacional, criando barreiras sanitárias complexas e controles de testes rápidos em quase todas as províncias. Isso causou muita lentidão, discussão e custos que estão sendo absorvidos em quase sua totalidade pelos transportadores.
Ainda, com o avanço do coronavírus, Argentina, Chile, Uruguai e Peru passaram a exigir um exame de covid-19 antes de entrar no país, até então algo normal. O problema, entretanto, era o período de espera do resultado do teste, o que causou fila de motoristas em ambientes que não possuíam estrutura mínima para eles aguardarem. Isso gerou preocupações para a transportadoras quanto à saúde desses profissionais e custos.
Diante disso, medidas foram tomadas buscando soluções para os conflitos. Um exemplo foi a reunião bilateral entre reguladores do transporte rodoviário do Brasil e da Argentina realizada no dia 26 de março.
Esse encontro teve o intuito de solicitar ao país vizinho esclarecimentos de alguns impasses que estavam prejudicando o modal de entrega internacional de cargas, além de questões burocráticas e logísticas.
Ainda buscando soluções para esses problemas, em 14 de maio assinei um ofício endereçado ao Conselho Empresarial do Transporte Rodoviário de Cargas do Mercosul, Bolívia e Chile (CONDESUL), solicitando uma reunião com a brevidade necessária do Subgrupo 5 de “Transporte” do Mercosul em face dos problemas gerados pela pandemia.
Em resumo, o conteúdo do documento pedia uma maior quantidade de encontros entre os seus membros para encaminhar soluções com a rapidez necessária, disciplinamento de procedimento para teste da covid-19, regras para cumprimento de quarentena e/ou liberação dos motoristas infectados, mas não na condição desta volta ser como “turistas/passageiros”, e regras àqueles motoristas que já foram vacinados em seus países.
Também foi solicitado que os representantes das entidades signatárias do ofício pudessem participar da reunião da Associação Latino-Americana de Desenvolvimento e Integração (ALADI), que ocorreu no dia 18 de maio, na qual pude estar presente ao lado do dr. Adauto Bentivegna Filho representando a NTC.
Houve ainda encontros com outras instituições e associações nacionais e internacionais, além de órgãos públicos, sempre buscando uma resolução para os desafios encontrados pelo transporte rodoviário internacional de cargas.
Com isso, conseguimos melhorar a situação burocrática, mantendo os protocolos de segurança, claro, mas agilizando-os para garantir o bem-estar da saúde dos motoristas que esperam, além da otimização de custos das transportadoras.
Devido ao impacto da crise econômica global nas importações e nas exportações, outro problema que surgiu em 2021 foi justamente a falta de carga de importação da Argentina e Chile, obrigando muitas transportadoras a retornarem com caminhões vazios para suas bases ou para a fronteira.
Essa baixa produtividade impacta fortemente o caixa das empresas, uma vez que o custo diário de um caminhão parado, no momento que escrevo este artigo, está em aproximadamente 300 dólares, sem contar que o transportador tem que ficar 10 dias esperando o retorno do veículo sem nada, provocando um represamento das exportações.
Porém, acredito que haverá um crescimento em 2022. Ainda é difícil afirmar o percentual já que este depende do avanço da vacinação e da capacidade dos diferentes países de reverter os problemas estruturais subjacentes ao lento crescimento que percorriam antes da pandemia.
Muita coisa mudou nas operações de logística internacional devido a essa crise e tantas outras devem passar por isso também no decorrer do combate à doença. Entretanto, os transportadores precisam se preparar agora para quando ela for superada e precisam se antecipar para lidar com este novo cenário pós-crise.
Confira a mensagem enviada
Danilo Guedes
Vice-presidente de assuntos internacionais da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), presidente da ABC Cargas e diretor da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI)
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