Estreante na política, Paulo Caleffi vê necessidade de maior representação do TRC no Congresso Nacional
Natural de Bento Gonçalves (RS), Paulo Vicente Caleffi é graduado em Direito e em Economia e pós-graduado em Marketing e em Pesquisa e Ensino pela Universidade de Caxias do Sul. Em 1985 liderou os empresários que fundaram o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas de Bento Gonçalves (SINDIBENTO) e foi presidente da entidade por 12 anos. Paulo Caleffi coleciona momentos de sucesso nos diferentes modais de transporte, como a Ordem do Mérito do Transporte Brasileiro – Medalha JK, da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em 2001, em nível de Grande Oficial, por reconhecimento a seu trabalho e profissionalismo dedicado aos interesses nacionais.
O atual deputado federal suplente pelo estado do Rio Grande do Sul acredita na importância de o segmento de transportes possuir representantes nas cadeiras políticas. “Para fazer aquilo que é necessário para o transporte, que é de interesse dos empresários e também da sociedade, nós precisamos ser protagonistas e não observadores”.
Confira a entrevista completa:
O senhor atua há mais de 50 anos no transporte rodoviário de cargas (TRC), visto como muitos um dos líderes do setor. O senhor poderia, para começar, falar um pouco sobre o início do seu envolvimento no TRC?
Resposta: A minha trajetória tem muito a ver com a NTC. Na ocasião em que eu entrei no TRC, Thiers Fattori Costa era o presidente da entidade, e naquela época me solicitaram para abrir um sindicato em Bento Gonçalves, terra da esposa do então presidente da NTC, para podermos fazer uma federação. Abrimos o sindicato local, denominado de SINDIBENTO, e posteriormente fizemos a FETRANSUL. Com isso, conseguimos formar a Confederação Nacional dos Transportes, que é a CNT.
Eu presidi a FETRANSUL por 14 anos, e daí para frente, como dizem, entrou diesel nas minhas veias. Hoje, fico feliz de estar representando na Câmara dos Deputados os interesses da NTC e de todo o transportador, de todos os modais brasileiros.
Apesar de sua forte atuação no setor do transporte rodoviário, esta é a primeira incursão do senhor na política, agora como Deputado Federal pelo Rio Grande do Sul. Gostaria que o senhor falasse um pouco como a sua grande experiência no setor do transporte vem contribuindo com a sua recente atuação política.
Resposta: O último deputado federal veio do setor de transporte há cerca de 40 anos, o Denisar Arneiro, e naquela ocasião conseguimos grandes avanços, como a criação do SEST SENAT. De lá para cá tivemos diversas tentativas de entrar na política, inclusive do meu amigo e atual presidente da NTC, Francisco Pelucio, mas sempre foi muito difícil.
Porém, os transportadores do Rio Grande do Sul me incentivaram, e agora eu estou ocupando essa cadeira temporariamente, até março de 2022, com o afastamento do deputado. Nesse período, já estamos fazendo muito pela categoria e tenho incentivado cada vez mais que os empresários se interessem pela política.
Inclusive, fico muito feliz em saber que o Ari Rabaiolli já é pré-candidato a deputado federal e que temos mais dois transportadores que devem entrar como candidatos pelo Paraná e por Goiás. Nós precisamos de quem entenda do setor ocupando essas cadeiras para conseguirmos defender os interesses do segmento e para conquistarmos o nosso espaço também na política.
Falando um pouco sobre a sua atuação na CIT, recentemente houve aprovação do Senado para o livre comércio entre Brasil e Chile, o que deve estreitar as relações entre os dois países e criar conquistas valiosas para o setor do transporte de cargas. Como o senhor enxerga esse avanço e de que forma a CIT pode contribuir para as melhores relações entre os dois países nesse novo momento?
Resposta: A Câmara Interamericana dos Transportes congrega os interesses dos transportadores de todos os modais, de 19 países. O último a entrar foram os Estados Unidos e o próximo deve ser o Canadá.
A CIT não enxerga fronteiras e trabalha dessa maneira para assegurar as livres fronteiras para os modais de transporte. Então, quando sentamos e discutimos os assuntos de integração, como é o caso do Chile nesse momento, temos que pensar que é uma maneira de aproximar os povos. Fico feliz com a aproximação dos governos, e na CIT vamos continuar lutando para que essa aproximação se confirme e se torne algo positivo para os transportadores.
Agora entrando em mais detalhes nos assuntos políticos, avaliando sua visão no setor do TRC, como o senhor enxerga o Documento Eletrônico de Transporte (DT-e), aprovado pela Medida Provisória 1.051?
Resposta: Neste momento, eu penso que o DT-e é só mais um documento, já que ele não eliminou nada. Eu enxergo que no futuro, quando ele agregar os demais documentos, será uma maravilha.
Um só documento permitindo o livre trânsito, fazendo com que não precisemos mais parar em aduanas e em postos fiscais de fronteira. Sabemos que é possível porque a International Road Transport Union (IRU) já desenvolveu um sistema que auxilia o livre tráfego de caminhões da Europa até o Oriente Médio.
Portanto, eu enxergo o DT-e como um bom documento se ele atingir os seus objetivos.
Gostaria de saber a opinião do senhor sobre as reformas tributária e administrativa. O senhor acredita que elas vão acontecer ou ainda temos um longo caminho para que elas sejam aprovadas?
Resposta: No meu ponto de vista, a ordem das reformas deveria ser: primeiro a administrativa, segundo a reforma política e terceiro a reforma tributária. Em qualquer família, quando as receitas estão esgotadas, é necessário reduzir custos, e isso deveria ser a reforma administrativa. Em segundo lugar, precisamos colocar ordem na casa, porque é muito difícil, com 18 partidos, mais de 500 deputados e mais de 80 senadores, que cheguemos a um consenso até para aprovarmos as reformas. Por último, mas não menos importante, deveria ser a reforma tributária. Nós, empresários, já esgotamos a capacidade de pagar tantos tributos, especialmente com relação ao imposto de renda, então isso precisa ser revisto para criarmos uma reforma justa para os lados envolvidos.
Falando agora um pouco sobre a alta dos combustíveis, o consecutivo aumento do preço do diesel é prejudicial não apenas para o setor do TRC, mas para a economia do país como um todo. Como o senhor avalia esses seguidos aumentos?
Resposta: Um país como o Brasil, que é praticamente autossuficiente com relação ao petróleo, depender do preço internacional não está muito bem explicado. Assim, para que possamos entender mais sobre essa questão, está havendo aqui na Câmara dos Deputados o pedido de um Congresso Esclarecedor. Por que temos que depender do preço internacional? Nós estamos vendendo o nosso combustível mais barato para países como Paraguai, então eu não consigo entender por que o nosso combustível tem que acompanhar o preço europeu.
Outra questão que vem impactando e gerando aumentos são as consequentes adições de biodiesel no diesel: a porcentagem que já foi de 5% ou 6% agora já está a 10% e existem projetos para aumentar para 20%.
Precisamos evitar essa flutuação do diesel, porque ela desorganiza qualquer empreendimento e a sociedade.
Recentemente, o senhor e o presidente da NTC, Francisco Pelucio, oficializaram o Seminário Trabalhista do Transporte, que acontecerá anualmente. Gostaria que o senhor nos falasse um pouco da importância que esse encontro anual terá para o setor em médio e em longo prazo.
Resposta: Sempre enxerguei que, para qualquer empreendimento ter um bom resultado, ele precisa ter uma relação muito boa entre o empreendedor e o colaborador. Nada melhor do que fazer esse Seminário na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara dos Deputados, onde as questões trabalhistas são decididas, até para reforçar esse entendimento de que o trabalhador é fundamental para que qualquer negócio tenha um bom resultado.
A ideia da NTC é excelente, de propor essa reunião dentro da CTASP, porque a finalidade é valorizar essa relação entre capital e empregado.
Para finalizarmos, deputado, gostaria que o senhor deixasse uma mensagem para os transportadores, que conhecem e admiram seu trabalho de longa data.
Reposta: Pessoal, nós precisamos fortalecer nossas entidades para que haja líderes que possam ocupar o espaço político. Estou aqui há apenas 130 dias e ficarei até março do ano que vem, e mesmo assim já estamos conseguindo realizar muitas coisas positivas para o setor de transporte porque conhecemos o segmento e estamos dentro do poder de decisão do país.
Para fazer aquilo que é necessário para o transporte, que é de interesse dos empresários e também da sociedade, nós precisamos ser protagonistas, não observadores. Temos que pensar em eleger pessoas que sejam do nosso meio acima de tudo, porque se fizermos isso teremos aqui dentro representações de pessoas que conhecem e defendem os nossos interesses.
Para mim, foi um prazer ter essa oportunidade com a NTC, e para os mais jovens, especialmente, que essas nossas posições sirvam de estímulo.
Confira a entrevista na íntegra:
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